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A briga pela vida

Os últimos ipês rosas se recusam a abandonar a luta. Seguem numa operação de guerrilha, espalhados pela cidade, dispostos a ficarem, ainda que a temporada dos ipês tenha chegado ao fim.

Não adiante, tem sempre alguém que não vai embora. Seja planta, seja gente, seja onda que morre na praia, tem sempre alguém disposto a pagar o preço e ficar pra ver, tanto faz o resultado do jogo. 

Quando mataram Wild Bill Hickok, ele tinha nas mãos um full-hand que, daí pra frente, passou a ser conhecido como a “mão do morto”. E entre os quadros mais famosos do impressionismo está a casa do enforcado. 

A vida é assim… quando menos se espera, se morre. Como diz um bom amigo, “é só estar vivo para se morrer”. Os ipês rosas sabem disso, mas não querem morrer, nem sair de cena. O negócio é estender a corda até onde der da florada maravilhosa, que com o tempo vai ficando encardida, ainda mais com o calor abissínio que faz certos dias.

São Paulo não foi feito para suportar um calor desses.  No alto do Planalto, plantada a mil metros do nível do mar, desde os tempos coloniais, a região é famosa pelo ar fresco e pela temperatura gostosa. Ninguém sabe quem puxou o cabelo do Exu, o fato é que o calor do Saara entrou Brasil adentro e tomou São Paulo de assalto, deixando a cidade entregue e a população acabada.  

Tem quem diga que Exu não tem nada com isso, que é arte de Inca enterrado no alto da Cordilheira dos Andes pensando como seria o mundo se tivessem completado o Peabiru.

Só que o “se” não existe, na vida ou é, ou não é. O “se” faz parte da futurologia que não explica nada porque não aconteceu. Quem sabe dos outros é fofoca, maledicência e inveja brava. Se antes era cedo, agora já é tarde, mas os ipês seguem em frente. Será difícil acabar com suas flores.  

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.