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Invasores de túmulos

Não é invenção de moda, é realidade. Uma amiga me contou que telefonaram da administração do cemitério onde está o túmulo de sua família para lhe informar que o túmulo havia sido invadido.

Isso mesmo! O túmulo havia sido invadido, mas não por defunto, nem fantasmas. O túmulo foi invadido por gente viva que estava morando nele.

Ela questionou a funcionária se a segurança do cemitério não era um problema da administração e teve como resposta que era, mas como o cemitério era muito grande, enquanto a guarda estava de um lado, invadiam do outro.

A desculpa só não foi mais esfarrapada que a da assessoria de um candidato para desmarcar um encontro entre ele e mais de cem pessoas, às dez horas da manhã do dia do encontro.

Afinal, ninguém vai ficar dentro de um túmulo enquanto a guarda está longe, para sair correndo quando a guarda se aproxima.

Minha amiga foi ao cemitério e, ao examinar o túmulo da família, verificou que haviam arrancado a porta e que o túmulo estava habitado, com cobertores, garrafas e outros badulaques espalhados pelo chão.

Ou seja, o túmulo foi transformado em residência de vivos, alterando completamente a sua finalidade original, que era servir de última morada para os parentes da minha amiga.

Ao ver o quadro bizarro, ela não hesitou. Mandou erguer uma parede de tijolos na entrada do túmulo para substituir a porta arrancada.

Ela está otimista e imagina que com as providências adotadas seus antepassados estão protegidos e não precisam mais perder o sono eterno, preocupados em dividir a área com gente viva.

Pode ser que sim, pode ser que não, mas isso só o futuro dirá.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.