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Depois do depois tem mais depois

Depois do depois pode ser o fim? Poder pode, mas não costuma ser. Depois do depois ainda tem muito depois.

É mais ou menos como quando dizem que o fundo do buraco é mais embaixo. É sempre mais embaixo e, no Brasil, o mais embaixo costuma não ter fim.

Com o depois é assim. Depois do depois vem muito depois. Não necessariamente ruim, mas vem depois, e depois vem mais depois, e assim, sucessivamente, depois após depois.

Dizem que com a morte os depois acabam. Tem quem duvide. Se há vida eterna, então depois da morte tem mais depois.

Aplicada à vida essa certeza é só uma certeza, até porque não há muito que se possa fazer para modificá-la. É assim e acabou. Depois a gente vê o que faz.

Um capitão do CPOR, lá atrás, em 1971, dizia que antes da hora era cedo e que depois da hora era tarde. É verdade, a hora é a hora, mas depois dela tem muitos depois, que podem ou não ser os depois que nós nunca imaginamos que chegassem, mas que chegam, para o bom e para o ruim.

Cada dia é cada dia, como cada um é cada um. Não tem duas pessoas iguais, como não tem dois dias iguais. Mas o sol nasce e nós envelhecemos e não depende de ninguém mudar isso.

É por isso que as floradas que enfeitam São Paulo ensinam quem quiser prestar atenção. Elas são o retrato da vida em movimento. Sua sequência clara, imutável, varia apenas na força de cada florada, na intensidade das flores e no tempo que dura.

A vida é isso. Floradas que se sucedem, com tempo bom e com tempo ruim, no ritmo imutável dos depois sucedendo os depois.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.