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Os guapuruvus falam de amor

Nem todo mundo conhece os guapuruvus. Tem gente que não sabe o que eles são. Nunca viu, nunca ouviu o nome, não tem noção e, honestamente, também não quer ter. Afinal, são tantas as correrias que não sobra tempo para pensar nas coisas que não são sérias. Ou que para ele não são sérias.

Os guapuruvus são muito sérios. Só não são sisudos. Tem gente que confunde seriedade com sisudez. Não pode, são coisas completamente diferentes.

Normalmente, as pessoas sisudas são aquelas que imaginam que ser sério é ser chato. Fechar a cara, conjugar os verbos com pompa, adjetivar os substantivos, às vezes no plural, para combinar palavras difíceis, porque falar difícil para eles é sinônimo de seriedade.

Os guapuruvus sabem que não é por aí. Ao contrário, as coisas realmente sérias são simples. Simples e belas como teus olhos examinando uma pedrinha brilhante que você pegou no fundo do rio, depois de mergulhar do galho de uma árvore. A pedrinha tem nela um universo que os guapuruvus entendem porque são parte dele.

Os guapuruvus, com seus troncos altos e retos, eram usados pelos índios e pelos caiçaras para fazer canoas. Hoje, essa arte está quase perdida, pouca gente tem interesse em canoas de um pau só e, para completar, é proibido cortar as árvores.

Mas os guapuruvus não se importam. Eles têm outras utilidades e estão satisfeitos com elas. Agora mesmo, os guapuruvus estão floridos e suas flores intensamente amarelas enfeitam a cidade. O que pouca gente sabe é que cada uma é um telegrama cifrado, ou um e-mail, dizendo pra você o quanto eu te amo.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.