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Os fios nas ruas

A rede elétrica suspensa nem sempre é a mais eficiente, nem mais bonita, mas é a mais barata, o que a viabiliza como alternativa para os países não muito ricos, que precisam iluminar os seus céus, atingindo o maior número de moradores possíveis, com orçamentos reduzidos ou muito apertados.

Assim, postes de todos os tipos são fincados em todos os cantos das cidades, prontos para receberem todos os tipos de fios, que acabam formando um enorme emaranhado, sem começo nem fim, onde, cada vez que alguém mexe para consertar alguma coisa, faz com que outra pare de funcionar, porque inadvertidamente acertou com o alicate onde não devia.

É uma realidade à qual todos nós estamos habituados e que não deve mudar ao longo dos próximos anos, quando os investimentos em produção e distribuição de energia serão estratégicos para impedir que blackouts cada vez mais frequentes emperrem o país e o seu crescimento.

Mas o que é feio pode ficar bonito.

Existem cenários formados pelos postes e pelos fios que são verdadeiras obras primas a espera do artista. Criados sem qualquer planejamento ou senso de beleza, eles compõe paisagens de sonho, alterando quadros que sem as suas linhas escuras, seriam simplesmente pedaços feios da cidade.

A poesia não escolhe lugar nem hora para se materializar. Ela explode como a vida, nos lugares mais inesperados, sem que ninguém perceba, até vê-la, imensa, engolindo o mundo.

E os postes e os fios, espalhados simetricamente ou com ;pouca ordem ao longo das ruas da cidade têm o condão de, sob certas circunstâncias, criarem poesia e encherem as ruas com a beleza do inesperado.

Vê-los, formando desenhos inusitados no céu vermelho dum fim de tarde com o maravilhoso pôr do sol criado pela poluição paulistana, é sentir a poesia escorrer por suas linhas mágicas como que nos unindo ao universo.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.