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A sardinha e o Ministério da Pesca

[Crônica de 21 de agosto de 2008]

De repente, como se o mundo dependesse disso, o Brasil decide criar o Ministério da Pesca. Depois de seis anos de governo, chega-se à conclusão de que este ministério é o elo que faltava, a ligação atávica com os irmãos tupinambás, que 500 anos atrás pescavam… tainhas… no mês de agosto.

O mês de agosto é um grande mês para se tratar dos negócios relacionados com a água. Mês de cachorro louco, tem tudo a ver a hidrofobia com a nova mania. Um ministério para cuidar da água em mês de cachorro louco só pode dar certo, ainda mais quando o ministro nomeado é do interior de Santa Catarina.

É a falta de senso, ou a lógica do absurdo, mais uma vez entrando em cena para desmoralizar o pouco que falta do resto de ética que sobrou por aqui.

Será que nunca contaram que o Brasil não é famoso pelo litoral piscoso, em grande escala? Que nossas águas são tropicais e isso nos faz ter um mar relativamente pobre, ainda que cheio de peixes, próximo da costa.

Será que esqueceram de dizer que os peixes próximos da costa não existem mais, dizimados por séculos de pesca predatória, sem nenhum critério, exceto às vezes o emprego de dinamite?

Será que alguém neste ministério aquático sabe que D. João VI mandou soltar sardinhas trazidas de Portugal para povoar o litoral brasileiro e assim fornecer carne para os pobres e os escravos?

Mais um pouco, cria-se o ministério do jacaré de papo amarelo, ou da ararinha azul, ameaçada de extinção. E por que não o ministério do índio? Este sim de alta relevância nos negócios da pátria.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.