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Final de novela

[Crônica de 5 de setembro de 2004]

A sensação que se tem é que durante seis meses boa parte da população brasileira fica esperando a última semana da novela. A semana que tem que resolver tudo até o último dia, e na qual tem que acontecer o que durante os seis meses anteriores era para a acontecer, mas não aconteceu.

Faz décadas que é assim. Então para que mexer na fórmula se ela dá certo e consegue manter mais de 30 milhões de pessoas na frente de uma televisão, esperando o final, que varia, mas não muito, sempre sobre o mesmo tema?

A novela das nove acabou na semana passada, como sempre com recorde de audiência, apesar de não ter sido o recorde da história das novelas, nem a incerteza sobre o assassino de Lineu ter chegado perto do suspense de quem matou Odete Roitman, alguns anos atrás.

Como todas as novelas, tiveram momentos ótimos, outros divertidos, outros trágicos e muita encheção de linguiça, antes de chegar na última semana em que, por falta de tempo futuro, tudo tem que acontecer na rapidez dos poucos minutos que a grade de programação deixa para ela.

Hoje já tem outra novela no ar e nos próximos 6 meses ela deverá tomar conta do horário, como acontece faz tempo. E, também como acontece há décadas, em uma semana, no máximo 10 dias, ninguém mais falará da novela que acabou na última sexta-feira. 

Essa é uma das contradições fantásticas que fazem das novelas de televisão um bom retrato da precariedade da vida. Durante 6 meses elas são o assunto do país. Depois, em menos de uma semana estão esquecidas, substituídas por outra, que nos 6 meses seguintes será a bola da vez. No mundo real seria o velho “O rei está morto, viva o rei!”
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.