Os sinos de Sion
A igreja de Santa Terezinha não é uma igreja simpática. Encravada no meio da encosta, na rua Maranhão, ela vê a vida passar na sua frente com ar ausente, de profundo tédio, o tédio que a faz trancar suas portas, nas horas mais inconvenientes do dia, como se as dores e os pecados – e o consequente arrependimento – dependessem da boa vontade do padre, sacrossanto senhor do céu e da terra, que tem o direito de fazer a sesta na hora que quiser.
Mas perto da igreja de Santa Terezinha fica a capela do colégio Sion, de frente para a avenida Higienópolis, simpática e cativante, com sua fachada de tijolinhos vermelhos e suas colunas, que lhe dão um ar de igreja mor e não de simples capela.
A sorte do bairro é a capela do colégio se contrapor a igreja da encosta. Não fosse isso, Higienópolis, que é um bairro muito simpático, ficaria sem uma igreja simpática para atender seus fiéis.
E a capela retribui a alegria que dá para o bairro esmerando-se em ser sempre mais e mais simpática. É assim que ela toca o sino ao meio dia, nos remetendo para uma época em que o bater dos sinos anunciava as horas e os grandes acontecimentos. As bandeiras, as tropas, a independência, a república, as greves e os primeiros movimentos sindicais.
Depois os sinos foram perdendo espaço. Ficando mudos, ainda que diante dos grandes fatos que mudaram o mundo e o país. Em seu lugar veio primeiro o rádio e depois a televisão, mostrando ao vivo o que os sinos antes anunciavam depois.
Mas o sino da capela do colégio Sion nos remete, também, para um outro Brasil. Um país agrícola, onde a industrialização se concentrava em poucas grandes cidades e por isso a vida nas fazendas ainda corria calma e segura, com tempo para os sinos das capelas tocarem a Ave Maria.
Ainda bem que em Higienópolis, além da igreja de Santa Terezinha, existe a capela do Colégio Sion, com tudo de bom e positivo que uma igreja consegue nos transmitir.
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