A cidade vingativa

São Paulo é uma das maiores cidades do mundo. Só isso seria suficiente para faze-la interessante e alvo da observação constante de quem se interessa pelos fenômenos humanos.

Aqui os opostos se encontram e competem diuturnamente.

Mas São Paulo é muito mais. São Paulo é uma força viva que se expande incontrolável para todos os lados, das formas mais inusitadas possíveis.

Seu crescimento é vertiginoso e não para nem mesmo no sétimo dia, que Deus fez para descansar da lida dos outros seis. Pelo contrário, é no domingo que a cidade cresce ainda mais rapidamente, com suas fronteiras se expandindo nas centenas de casas e barracos construídos em suas periferias, justamente nos domingos, que é o dia que os construtores têm para erguerem seus sonhos em pedra e cal, transformando-os numa nova realidade que se incorpora à realidade da metrópole insaciável.

A cidade não conhece limites e os que ousam ficar na sua frente são atropelados com a mesma indiferença que um trem passa por cima de um burro que cruza a linha na hora da sal passagem.

Mas a cidade cresce também para dentro. Para cima, ocupando os espaços que antes eram das aves e que agora servem de limites para o seu voo.

Os arranha-céus sobem impávidos, qual enormes torres de babel, em busca do espaço que os terrenos limitados não conseguem lhes dar.

É preciso ser mais, é preciso ser maior, engolir mais gente, em troca das ilusões miseráveis que são como imãs, atraindo os milhares de incautos que acham que aqui é o Eldorado, ou a lagoa dourada, ou as serras de prata, de onde a riqueza jorra farta, para o bolso de quem se arrisca a descobri-las.

São Paulo recompensa os corajosos e os arrojados, mas São Paulo não perdoa os incautos, os que se atiram a ela convencidos da verdade de suas ilusões, e que elas podem acontecer.

São Paulo não perdoa quem não joga dentro das regras do seu jogo.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.