As tempestades e a água
A estiagem bruta que se abateu sobre o Brasil levou os reservatórios aos seus níveis mais baixos em muitas décadas. Não é imaginável o rio Paraguai correndo entre bancos de areia que no passado nunca vieram à tona. Também não deveria acontecer das cidades submersas pelas grandes barragens aparecerem, como fantasmas de outra época, brotando do fundo dos lagos vazios.
Mas é isso que está acontecendo e ainda deve demorar para o quadro voltar à normalidade, quer dizer, ao padrão que estamos habituados, seja lá o que isto quer dizer.
Está começando a chover de novo, mas vai precisar cair muita água para os rios e as represas voltarem aos níveis de alguns anos atrás. Não, a estiagem não é um fenômeno deste ano, não tem influência do coronavírus, nem qualquer relação com a pandemia que corre solta pelo mundo.
Faz alguns anos que chove menos do que as médias históricas e essa mudança do regime das chuvas teve como consequência afetar o nível das represas e dos rios, comprometendo o fornecimento de energia elétrica e de água. De outro lado, a elevação das temperaturas médias teve como resultado o aumento do consumo de água e de energia elétrica. O resultado é a crise que estamos vivendo e que pode ser que não passe tão cedo, mesmo chovendo muito este verão.
As tempestades que estão caindo forte e causando danos nas mais variadas regiões do país não são sinônimo de volta às médias históricas do regime dos rios e das represas.
Se as chuvas não caírem nos lugares certos, são muito bem-vindas, mas terão pouco impacto no restabelecimento da ordem com que estávamos habituados. É aí que mora o perigo. Ninguém tem certeza de que as chuvas e tempestades trarão o alívio que nós necessitamos.
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