Morando na rua

Ninguém, ou praticamente ninguém, em sã consciência, escolhe morar na rua, passando frio e tomando chuva, debaixo de uma marquise, na porta de um prédio, mal protegido pela estrutura de uma ponte.

No entanto, a cada dia que passa, mais e mais pessoas, mais e mais famílias, seguem o caminho da porta de saída de suas moradas e se instalam, sem outra opção, debaixo de uma tenda precária, quando têm uma tenda precária.

As pessoas em situação de rua não são bandidos, não são pecadores e, no entanto, pagam um preço absurdo e desumano por uma conta que não é deles, nem deram origem. Não são os agentes, são as vítimas.

A miséria não é uma opção, é uma imposição. O ser humano não nasceu para viver na miséria, catando lixo, separando o que tem valor do que não tem, remexendo os sacos colocados nas ruas para serem levados pelos caminhões da limpeza urbana.

O ser humano não nasceu para ficar nas esquinas movimentadas, disputando lugar com outros seres humanos, para implorar por comida, ou dinheiro para comprar comida, porque estão com fome.

Lugar de criança não é nos sinais da vida, é na escola, inclusive nas nossas, onde, além de aprenderem, ainda que pouco, têm a refeição que faz a diferença e que muitas vezes não é parte da rotina de casa.

A diferença entre a miséria e a pobreza é que na miséria não há dignidade. O ser humano não pode ser privado da sua dignidade. É um direito natural, como estar vivo. Não pode se retirado, independentemente dos motivos. Não há razão que justifique tirar a dignidade de uma pessoa e de sua família. De uma pessoa perante sua família.

Não é possível seguir como vamos. Ou começamos a mudar esse quadro ou nossa história ficará eternamente manchada.

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