Ó pro filho pródigo!

A parábola do filho pródigo é das passagens tocantes do Novo Testamento. A volta arrependida do filho que durante anos gastou o dinheiro do pai, caiu na gandaia, deu o toco em todo mundo, fez e desfez e, quando ficou na pior, volta para casa faz chorar. Cena de filme candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro, sucesso no cinema e nas redes a cabo.

Coisa para viralizar em milhões de posts nas redes sociais, comentários fofos, apoio, muitas lágrimas e torcida para a história realmente acabar bem. Como é edificante o filho pródigo retornar ao lar!

Pena que na vida real não é bem assim. Em muitos casos, o filho pródigo é um picareta que não vale nada e que, depois de se aprontar todas, se dar mal e perder tudo que levou da família, volta para casa para ver se arranca mais algum dos tontos de plantão.

Finge, chora, abraça a mãe, diz que está arrependido, se senta na cabeceira da mesa, faz discurso empolado, mostrando que tudo que ele fez tinha uma finalidade boa, que aprendeu com os erros, que sentiu falta da mãe, que nunca esqueceu os irmãos e que está arrependido, disposto a consertar o feio e malfeito, ressarcir os prejuízos…mas, antes, precisa de mais uma graninha para acabar de acertar uns negócios ainda abertos, que impedem que ele volte com a consciência em paz e os preços pagos.

No mundo real, o filho pródigo prefere não ter pai. Só uma mãe viúva é o melhor dos mundos. Com um pouco de jeito, chora abraçado com ela, que saca as reservas da sua velhice, a herança dos irmãos e dá tudo para o esperto, que vai embora rindo e sem olhar para trás.

Danem-se os que carregam o piano durante anos, os que dão duro, firmes no trabalho diário, os que pagam as contas, os que ajudam os pais. São uns tontos e servem para isso mesmo, para serem sugados pelo filho esperto que volta ao lar só para arrancar mais algum.

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