Natal
Será que o Menino Deus teria uma manjedoura para nascer no Natal de hoje? Será que haveria um estábulo onde seus pais se abrigassem para que a mãe desse à luz a criança que iluminaria o mundo?
Será que teria um será? Como seria a vida? Teria fuga para o Egito? Teria volta para a Galileia? Teria ao menos Galileia? Ou o mundo estaria explodindo em bombas e foguetes, em pandemias e fome e sede?
Será que a paz estaria conosco? Será que paz estaria entre os homens de boa vontade? Mas quem são eles, os homens de boa vontade? E as mulheres e todos os outros que exigem seus direitos? Quem são eles? Onde estariam, neste mundo bíblico de ponta cabeça em que Noé perdeu a arca num jogo de pôquer, no alto do Monte Ararat? Onde estariam as mulheres e os outros, que são homens e mulheres e são mais, são pessoas, com individualidades próprias, que devem ser respeitadas porque todos merecem respeito, como merecem piedade.
Natal, natal em paz, na noite que deveria estar em paz e tranquila. Na noite que não está em paz, nem tranquila, na voz alucinada das redes sociais destilando ódio, quando a palavra, a única palavra é paz.
Que a paz esteja convosco como está dentro de nós. Que os pobres e os humildes tenham seu momento, não num único momento fugaz, mas durante a vida. Que tenham dignidade. E o mínimo para viverem daqui pra frente sem perder a dignidade.
Que esta noite resgate o Menino Deus que vive dentro de cada um de nós. Que todos possamos ser de novo meninos, brincando no enorme playground do mundo.
Que, em vez de pandemia, radicalização e discursos de ódio, tenhamos amor, saúde, paz e esperança. Que tenhamos mãos estendidas, dividindo o pão de cada dia entre todos que têm fome.
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