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Medo de caixa eletrônico

Confesso que tenho vários medos. tenho medos metafísicos e físicos, sendo que os primeiros, apesar de mais terríveis, atualmente, me incomodam menos do que os segundos.

Que me importa se o céu pode cair na minha cabeça, ou se depois da morte pode não haver nada? Que me importa se ninguém nunca voltou para contar? Que me importa se deus fala grego ou inglês? Que me importa toda a filosofia do mundo, se do outro lado do vidro do carro pode estar um menino muito louco, com um revólver na mão?

Nada! Não há filosofia que resista à boca negra do cano de uma arma apontada para você.

Boa parte dos motoristas da cidade sabe disso e sabe que na hora que o cano aparece não há metafísica que resolva o problema e que a única solução é passar a grana, o relógio e o mais que tiver e o estafermo quiser.
medo é coisa palpável. Você consegue tocar nele, o que o faz diferente da maioria das ideias ou das sensações, que você tem ou sente, mas não toca.

O medo é outra coisa. O medo é denso, faz suar, te assusta…

Quem disser que não tem medo, morando em São Paulo, ou é louco ou é mentiroso. Não existe uma terceira hipótese, exceto variações das duas primeiras.

É por conta disso que eu fico quase que alucinado quando descubro, nos fins de semana, que esqueci de tirar dinheiro na sexta feira.

Eu confesso, tenho horror, quase que pânico dos caixas automáticos.

Tendo sentido na pele a possibilidade de um assalto dentro de um deles, e que só não se concretizou porque a máquina – graças a deus – estava louca e comeu o meu cartão, nunca mais tive prazer em me servir dessa comodidade da vida moderna, só entrando num quando não tem jeito.

E entro com muito medo, olhando para todos os lados, rezando e fazendo figa para a coisa andar logo.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.