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O esperto

Durante séculos a grande praga que impediu o Brasil de andar pra frente foi a saúva. A mesma saúva que, chamada de “fire ant”, vai atrapalhando a vida dos norte-americanos, que tiveram a sorte de só travar contato com estes bichinhos simpáticos nas últimas décadas.

Pois nós as temos desde antes do Brasil ser descoberto, tanto faz por quem, pelos índios ou pelos portugueses, e provavelmente as termos depois que o último homem deixar de viver neste pedaço de chão abençoado por Deus.

Por conta dela, a agricultura, desde o tempo do Brasil colônia, teve seu desenvolvimento retardado, comprometendo o futuro do país, que continua sendo o país do futuro, só que, agora, ameaçado também por uma nova praga, o “esperto”.

O esperto não é uma figura nova no cenário pátrio. Pelo contrário, ele sempre esteve aqui, causando danos tão terríveis quanto a saúva, mas discretamente, porque uma das condições para se ser um esperto bem sucedido é a discrição.

Esperto inteligente é discreto, o que me faz concluir que existem dois tipos de espertos, o esperto que é esperto e por isso é discreto e não conta para ninguém que é esperto, e o esperto que se acha esperto, mas que não é e por isso destrói muito mais do que esperto realmente esperto, que já destrói além de qualquer limite razoável.

O esperto que acha que é esperto é o seguidor da lei de Gerson aprimorado. É o cidadão que acha que tem que levar vantagem em tudo e que pode tudo, porque é mais e mais do que os outros.

É o estafermo que fura filas em geral, que para o carro em fila dupla, que entra da esquerda para a direita sem dar seta, ou que joga lixo na rua.

O esperto que acha que é esperto ainda não descobriu que ele não é esperto, porque, se fosse, ele não faria as coisas que faz. Quem faz o que ele faz não é esperto é um imbecil, na acepção exata da palavra.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.