1964, o movimento fora do contexto
Pretender resgatar 1964, a favor ou contra, é de uma indigência intelectual absoluta. Aliás, nada que destoe da realidade nacional, que, em pleno ano de 2021, no século seguinte, praticamente sessenta anos depois, ainda busca no movimento militar desculpas para justificar o injustificável, para um lado ou para o outro.
Em 1964, o mundo era outro, a Guerra Fria corria solta, o mundo se dividida entre democracia e comunismo, cada um com seus defeitos e qualidades, com Estados Unidos de um lado e União Soviética do outro, os dois cooptando mais países para sua órbita.
O Brasil também era outro, sem ter uma ligação por terra entre o sul e o norte. Para ir a Belém era necessário pegar um navio ou avião, não havia estrada até lá.
A taxa de analfabetismo era muito alta, energia elétrica era luxo no interior de estados considerados ricos e o país dependia em grande parte das exportações de café.
1964 aconteceu automaticamente, na sequência de uma série de eventos que culminaram na tomada do poder pelos militares. Como acontece na maioria das vezes, quando pessoas de boa vontade acreditam na causa, o que era para ser de um jeito mudou radicalmente e acabou de outro completamente diferente.
Mas isso é passado. É história. E ela é diferente do que os dois lados tentam contar. Não tem cabimento enaltecer um regime de força, como não tem cabimento enaltecer ações que nunca tiveram o menor viés democrático.
O Brasil mudou, é outro país, com outras necessidades, sonhos e esperanças. É isso que tem que ser enfrentado e atendido. Só se resgatam fantasmas quando não se tem nada para oferecer no seu lugar.
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