O preço do progresso
O preço do progresso é mais barulho na sua orelha. Tanto faz o que digam, com o progresso vem o barulho, seja aéreo, marítimo ou terrestre. De uma forma ou de outra, o barulho chega, entra na sua vida, faz parte do ambiente, inferniza o ambiente e segue firme e forte na toada crescente das trombetas dos templos, nos altos faltantes chamando os fiéis para o culto nos fins de semana.
As trombetas de Jericó soam nas periferias, mas mais terríveis do que elas são as turbinas dos jatos entrando e saindo pelos corredores aéreos. Poucos minutos separam um do outro e o ronco segue incessante, variando apenas em função da turbina e do avião, um mais agudo, outro mais grave, mas sempre presentes ao longo do dia e parte da noite.
Para arrematar o ronco estridente dos jatos acelerando, nada como um helicóptero e outro e outro voando sobre sua cabeça. Não discuto, helicóptero é avanço na qualidade de vida para quem está dentro da máquina, com certeza, mas para quem está embaixo é mais um círculo do inferno não previsto por Dante.
Tem gente com mais sorte e gente com menos sorte. Dizem que o metrô valoriza o imóvel, mas isso só acontece quando a estação fica pronta, o que pode levar décadas, como bem sabem moradores da Capital, instalados próximos de futuras, mas incertas estações. Até lá, é barulho e sujeira, tanto faz a hora, o dia ou o signo do desafortunado vizinho.
Mas não são apenas as obras do metrô que podem levar cidadãos de bem a se transformarem em assassinos potenciais. Tem muita construção de prédio que não fica devendo nada a elas. Ao contrário, não ligam se são mais barulhentas e não estão nem aí, porque sabem que na maioria as vezes a prefeitura não faz nada.
Não há dúvida: o progresso é ótimo, mas o barulho, nem tanto…
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.