A dualidade é inimiga do diálogo

Está cada vez mais difícil. Você comenta que o presidente chamar os embaixadores para xingar as urnas eletrônicas é uma barbaridade, alguém te lembra que o Lula apoiou o Chavez, na Venezuela.

Você fala que o Messi não está jogando tudo que já jogou, alguém lembra que o PSG quer vender o Neymar.

Você lembra que o Hitler foi responsável pela morte de seis milhões de judeus, alguém te fala que o Stalin matou mais de vinte milhões de russos.

Você fala que os Estados Unidos poluem, imediatamente alguém lembra que a China também polui.

Você fala que ser são-paulino é padecer o inferno nos campos de futebol, alguém te lembra que pior ainda é ser torcedor do Cruzeiro.

Você fala que gosta de esquiar no inverno, alguém grita que bom é surfar no verão.

O mundo perdeu a prática da conversa sem outro sentido ou intenção, a não ser colocar um dado que vai dar suporte para uma ideia sobre a qual você vai conversar. Mas não deixam.

Não é mais possível. Se tem A, tem que ter B. Tudo é contestável, tudo tem que ter a contrapartida, na marra, colocando a cara metade, até quando a cara metade é completamente inadequada para a situação.

A polarização não é mais apenas um fato político, passou a ser um fato da vida. O resultado é que está cada vez mais complicado conversar, jogar ideia fora pelo gosto da conversa.

Não há mais como fazer isso, não há mais como apenas conversar, viver virou uma guerra. Tudo tem consequência, segundas intenções, e os julgadores, que sempre têm razão, muitas vezes não têm noção do que estão falando. Tanto faz, as redes sociais aceitam tudo, inclusive o absurdo.

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