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A jaca conquista o espaço

[Crônica do dia 16 de abril de 1997]

Depois de ser usada das mais diferentes formas para engordar gente e animais, a jaca atinge alturas jamais imaginadas pelos seus mais ardorosos defensores. Literalmente, o céu é o seu limite.

Fruta terrível, que a literatura sempre colocou num papel simpático, dando-lhe uma participação bem humorada na maioria de suas aparições, a jaca, na longa história do Brasil, teve papel de destaque nas mais variadas situações.

Usada desde os tempos coloniais como fonte de alimento farto e barato, ela serviu a homens e animais, impedindo-os de morrer de fome ao longo de suas vidas.

Eu mesmo conheci o dono de um barco que obrigou seu marinheiro a um longo regime exclusivamente a base de jaca, mesmo com o dito marinheiro chorando de desespero, depois de uma semana comendo a fruta de todos os jeitos possíveis.

Pode parecer piada mas é sério. Imagine alguém ficar comendo jaca, e só jaca, durante sete dias, no café, no almoço e no jantar. Por mais que se goste da fruta, e ela é enjoativa, vai chegar uma hora que não dá mais sequer para sentir o cheiro da bruta.

Graças a Deus o marinheiro em questão era de boa índole, e ao invés de atacar o seu patrão, ele foi pedir socorro no barco ao lado, que lhe deu macarrão e salsicha para compensar o regime que o estava levando a loucura.

Agora, depois de servir de fundo para estórias fantásticas como a do casamento do cabo Martim, de Jorge Amado, a jaca é recompensada com a honra de ser uma das primeiras brasileiras a voar no ônibus espacial.

Aceita pela Nasa, ela deverá ter sementes previamente escolhidas subindo aos céus, para participarem de experiências inacreditáveis, capazes além de tudo de curar a doença de chagas, que todos os anos mata centenas e centenas de brasileiros, que passam a ter na jaca cristalizada no espaço uma esperança concreta de sobrevida.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.