Meio século de MASP
[Crônica do dia 8 de outubro de 1997]
Por fora o sonho é de concreto e de vidro. Com suas linhas retas delimitando o espaço, entre vãos e massas que se estendem enormes, sustentados por quatro colunas que os prendem por cima, aumentando a sensação de leveza que nem mesmo seu corpo imensamente retangular, pendurado entre o céu e a terra, consegue quebrar.
Por dentro o sonho adquire contornos de noite de verão, e de purgatório, e de inferno, para renascer permanentemente no paraíso, entre cores que se alternam, alterando figuras que crescem e tomam forma, quase vivas, imortalizadas no instante mágico da criação genial que as tirou do campo do sonho, criando o momento do encontro entre a vontade humana e o sopro divino.
O sonho é lindo.
Por dentro e por fora, por cima e por baixo, por onde se olhe, o sonho é lindo…e, mais do que lindo, o sonho é nosso!
Há cinquenta anos o sonho é nosso!
Da cidade de São Paulo, que nas asas do sonho de um homem ganhou de presente um sonho que se repete diuturnamente materializado na genialidade humana, exposta no acervo do MASP.
O MASP é o sonho levado aos seu instante mais alto. A comunhão raramente alcançada entre a aspiração pelo eterno e a possibilidade de tê-lo.
Sua coleção comove, eleva, sublima, toca nos cantos mais escondidos do coração, para explodir em sensações que as palavras não explicam, mas que fazem mais leve a alma e mais bela a vida.
Bosch, Van Gogh, Renoir, Degas, Monet, Manet, Goya…
Há meio século cada um deles nos recebe com o impacto atordoante do belo levado a sua última essência, para criar o contraponto maravilhoso para que Velásquez, Turner, Gauguin, Delacroix, e tantos outros gênios, numa discussão inesgotável, perpetuem o inefável da vida, entregue na obra arrancada do seio da dúvida.
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