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O espião que veio do mar

[Crônica do dia 28 de setembro de 1998]

Depois da cobra cipó pega em flagrante na praça da Sé, quando se preparava para se esgueirar para dentro de uma touceira de capim, agora foi a vez de um leão marinho pisar na bola e ser visto em plena missão de reconhecimento do litoral paulista.

É evidente que se trata de um leão marinho esperto, tanto que, ao ser visto, fingiu que estava meio perdido, olhando para os caiçaras com cara de leão marinho que se extraviou da rota, e deu nas costas brasileiras por força do acaso.

A foto dele no jornal não deixa margem para dúvidas. É um exemplar de bom tamanho, com jeito dos leões marinhos que fazem o curso de guerra na selva e que depois seguem carreira atuando sozinhos, até serem descobertos por Hollywood, onde vão contracenar com Rambo e outros heróis do mesmo calibre.

O que o leão marinho estava fazendo em Camburi também é óbvio e causou espanto a guarda costeira norte americana não ter sido chamada para auxiliar as autoridades marítimas brasileiras.

Só não vê quem não quer, e, no caso, parece que ninguém queria, porque o leão marinho continuou sem qualquer vigilância especial, nadando de um lado para o outro do litoral norte paulista, sabidamente área, da maior importância estratégica, em função do enorme potencial da mata atlântica, encravada nas encostas da serra, à espera de quem vá desbravar suas trilhas, para colher bromélias e orquídeas, e vende-las no mercado de Amsterdã.

Em função disto, há quem diga que o leão marinho era um agente da companhia das índias ocidentais. Mas é só boato.

Pelo jeito como agia, o pacato monstro do mar parecia mais um agente do Curdistão, conhecido centro de contrabando desse tipo de plantas, e de onde as bromélias e orquídeas brasileiras atingiriam os mercados consumidores de forma mais fácil e menos controlada, como os africanos que não podem mais entrar na Europa.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.