Amoras, ora, as amoras

As amoras são rápidas. Como este ano está tudo confuso, decidiram se apressar para saírem na frente das pitangas. Tradicionalmente, elas e as pitangas chegam na mesma época. As amoras um pouco na frente, mas elas se cruzam e nós podemos comer as duas frutas no mesmo dia.

Este ano não está sendo assim. As amoras já chegaram e estão quase indo embora e as pitangas ainda estão aquecendo as turbinas.

Tem quem diga que o problema são as eleições e a polarização do Brasil, que as amoras não queriam entrar no assunto. Como são frutas de boa índole, preferiam ficar de fora da discussão, por isso apressaram o processo de amadurecimento das frutas e chegaram antes, quebrando a tradição natural de amadurecerem com as pitangas.

Não tenho nada que confirme a versão, mas também não tenho nada que não confirme. Como nesse mundo a gente vai vendo coisas que nunca imaginou possível, pode ser que sim e pode ser que não.

Tanto faz, o fato indiscutível é que as amoras estão aí e é muito bom comer amoras no pé. A gente puxa seus galhos finos para baixo, colhe as frutinhas escuras, fica com as mãos pintadas de vermelho e a festa está feita. É colocá-las na boca e sentir seu gosto peculiar.

Amora é muito bom. Os sabiás que o digam! Bobeou, estão nas amoreiras aproveitando as árvores carregadas de frutas para fazer a festa.

Quem comeu, comeu; quem não comeu, não comeu. Sabiá esperto canta de noite, passa o recado para os macucos escondidos na mata fechada da Serra do Mar e, durante o dia, dá um tempo para comer amoras diretamente no pé. Cinco minutos sem cantar não faz diferença na vida da ave, mas não comer amoras pode interferir no seu grau de felicidade.

Como sabiá é sabiá e eu sou eu, tanto se me faz se o sabiá come amora no pé. Eu como e acho muito bom.

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