O centro velho caído
[Crônica do dia 3 de março de 2003]
O centro velho de São Paulo é um dos complexos urbanos bonitos que eu conheço no mundo. Está abandonado, estragado, mal cuidado e deteriorado, mas mesmo assim conserva um ar de nobreza que não lhe permite perder o caráter, nem a dignidade de quando era o coração econômico do Brasil e dentro dos prédios, nos mais variados estilos, decidia-se o futuro do país, aumentando ou diminuindo as plantações de café, as malhas das ferrovias, a construção das primeiras autoestradas; a eleição dos presidentes, deputados e senadores que escreveram com enorme integridade uma parte importante da história do Brasil.
Depois o centro velho assistiu São Paulo traído, ser pisado pelas botas brutas da ditadura. E foi palco dos movimentos populares que desaguaram na revolução de 1932.
Da frente das Arcadas, no Largo de São Francisco, a população exigiu o direito de andar pra frente, de trabalhar e gerar mais riquezas, industrializando o Brasil, num processo alucinado que até hoje não parou e mantém o Estado e cidade como locomotivas de tudo o que o Brasil poderia ser, mas que não deixam chegar lá.
A cidade mudou de lado, para o centro novo, subiu o espigão da Paulista, para descer Faria Lima abaixo e se espraiar pela Berrini e Juscelino.
No centro velho sobraram as grandes lojas desocupadas, os camelôs que tomaram as ruas por onde passavam mais de um milhão de pessoas por dia, e os advogados que têm o fórum e o Palácio da Justiça como amarras presas no passado.
Mas, se Deus quiser e a prefeita ajudar, esta fase vai passar.
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