Irene do Céu
[Crônica do dia 15 de julho de 2009]
A beleza se contrapõe de forma inusitada, nas mais diversas situações dessa vida. Às vezes, faz que vai, mas bate de frente e volta. Outras, se coloca lado a lado e o resultado impressiona, pelo inesperado, pelo espanto. Mas tem também o caso em que poesia pura se opõe a poesia pura, não pela oposição, mas pelo contraditório, ou pela contradição.
Quase todo mundo conhece o poema Irene no Céu de Manoel Bandeira. Simples, curto, singelo, e acima de tudo humano, ele se insere no melhor da poesia brasileira, pela beleza da mensagem e pela forma como o poeta a transmitiu.
Paulo Nathanael Pereira de Souza, tomando emprestado o título do poema, publicou um pequeno livro intitulado Irene no Céu, que também é poesia pura.
Acima de tudo, poesia de vida, poesia vivida, por descrever com amor os últimos anos de vida de sua companheira de mais de meio século, a professora Irene Galvão de Souza.
Não é fácil falar do sofrimento próprio, e menos ainda do sofrimento de quem nós amamos. Falar da soma destes dois sofrimentos costuma ser tabu, evitado por gregos e troianos.
Mas falar deles com talento, clareza e poesia é o contrário. É quem sabe a forma mais pura e mais elevada de amar.
Por isso, Irene no Céu de Paulo Nathanael não fica devendo nada para Irene no Céu de Manoel Bandeira. Ao contrário, a Irene de Paulo completa a de Bandeira, contando a bela história de um grande amor, até seu final dramático, que justifica a origem e embasa a conversa de São Pedro com Irene, na porta do céu. Paulo Nathanael escreveu um pequeno grande livro, como última prova do tamanho de seu amor.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.