O segredo é negociar
Você acha que está certo, eu acho que não está. Você diz que é assim, João diz que não é e eu digo que é o contrário do que João diz. As sociedades funcionam assim. Existem centenas de milhares de opiniões, não necessariamente opostas, mas também necessariamente opostas, que precisam ser trabalhadas, discutidas e negociadas para atender o maior número de pessoas com o mínimo de descontentamento de quem se sentiu prejudicado.
Para se fazer isso, as democracias criaram o debate, o diálogo, a confrontação civilizada das ideias. É através de mecanismos com esta finalidade que as diferenças convergem e, em um determinado momento, se chega a um ponto tolerável para todos, fruto da capacidade de pensar o bem comum e ceder em matérias não fundamentais para um determinado subgrupo em troca de outro subgrupo abrir mão de reivindicações que também não são fundamentais para ele.
Eu dou, tu dás, ele dá, nós damos. Este é o verbo na pessoa correta: nós damos. Quer dizer, todos dão um pouco do seu para encher a cesta que alimenta a vida em comum, tornando possível todos dividirem o mesmo espaço, respeitadas as diferentes características.
É aí que mora o problema. O Brasil não tem funcionado assim. Nos últimos anos, incentivaram a baderna no lugar do respeito à lei, com base na tolice de que eu tenho direitos e que os direitos individuais são absolutos.
Todos têm direitos e, por isso mesmo, os direitos individuais não são absolutos. Eles terminam onde começa o direito do próximo e eles se submetem ao direito maior, que é o direito social. Ou a lei.
Sem o respeito à lei, não tem o que fazer. Enquanto a lei for lei, ela tem que ser respeitada, seja ela boa ou não. Fora disso é a barbárie. E ela não pode ser tolerada, em nome do bem comum e do direito de todos.
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