Os personagens esquecidos
[Crônica do dia 27 de março de 2001]
Quem já ouviu falar de Pedro de Rates Hanequim? Com certeza pouca gente, muito pouca gente, quem sabe a mesma que conhece a figura de Maria da Grã, que também respondia por Terebé, e era irmã de Bartira, e se casou com um jesuíta, antepassado do poeta Paulo Bomfim, com autorização formal de Santo Inácio de Loyola, para maior glória de Deus e poder da Companhia de Jesus.
E, no entanto, Hanequim morreu afogado e depois enforcado e teve o corpo queimado num longo ritual de execução porque se recusou a pactuar com o poder e, em 1771, não abriu mão de sua crença de que o paraíso terrestre existia e ficava no Brasil.
Mas, além dele, quem conhece Domingos Luis Grou, que, em 1590, partiu de São Paulo, comandando uma bandeira armada com Antonio de Macedo, para encontrar a lagoa Dourada, subindo na direção do Rio São Francisco?
E quem sabe que Antonio de Macedo era filho de João Ramalho e que essa bandeira foi das primeiras de uma série destinada a explorar sertões completamente novos, conhecidos como os sertões do Paraupava e que durante séculos ficaram esquecidos porque o rio Paraupava desapareceu do mapa? Quem sabe que ele foi reencontrado e que é o rio Araguaia?
Quem sabe que os patronos de boa parte das ruas da Vila Madalena eram bandeirantes que vararam o sertão do Guairá com Fernão Dias Paes? Que Mourato Coelho e Fradique Coutinho foram capitães de uma das grandes bandeiras de nossa história?
Quem sabe que história é essa e onde ela começa e acaba?
Quem sabe por que os livros de história das escolas brasileiras fazem questão de contar uma história sem graça, volta e meia sem pé nem cabeça, que esconde tanta gente interessante e tanto fato bonito, como se eles depusessem contra nós?
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