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As flores de plástico

[Crônica do dia 23 de agosto de 2010]

As flores de plástico não morrem. A frase está escrita no muro do Cemitério São Paulo.

É verdade, as flores de plástico não morrem, mas, como as flores de verdade, também envelhecem, perdem a cor, se tornam quebradiças e são jogadas fora, sem deixar saudades.

É triste, como um vaso com flores plásticos. Mas é a vida. E segue no ritmo da vida, porque a vida não distingue, na tristeza, as flores de verdade das flores de plástico.

Cada momento tem seu instante. Sua razão de ser. Ou de não ser. As flores de plástico não morrem, não precisam de água e não são berçários para o mosquito da dengue.

Elas lembram os pinguins de geladeira. Os pinguins de geladeira não sentem calor, não sentem frio, apenas ficam imóveis, olhando para você, como se a felicidade do mundo dependesse deles e de permanecerem imóveis no alto da geladeira, feita em iceberg, para se esconderem das focas leopardo.

Não sei se foram pensadas para isso, mas as flores de plástico são perfeitas para enfeitar a primavera dos pinguins de geladeira.

A diferença entre eles é que as flores de plástico são permanentemente tristes, enquanto os pinguins de geladeira têm um viés alegre, de troça ou piada, que os faz simpáticos e nos permite colocá-los em outros lugares, além das geladeiras.

Seja como for, mais vale uma flor de verdade que qualquer flor de plástico. Ainda que pequena ou encolhida pelo frio, toda flor verdadeira palpita uma esperança. Não sei se com os pinguins também é assim, então, no caso deles, fico com meu amigo em cima da geladeira.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.