Espatódias e resedás
As quaresmeiras ainda estão esquentando as turbinas para entrarem em cena com a violência de sempre. Estouram a boca do balão, chegam como quem sabe que são donas do pedaço, sem olhar para o lado, porque, até a florada dos ipês, ninguém pode com elas. E, mesmo eles, o jogo não é tão certo assim, pode dar chabu, como já aconteceu mais de uma vez, e nesse ano as quaresmeiras se sagrarem as grande campeãs das floradas que enfeitam São Paulo.
Mas as quaresmeiras ainda não chegaram. Já estão mostrando força em ações isoladas, em emboscadas preparadas por poucas árvores, comandos entrando em zona de guerra, mas ainda não desembarcaram suas flores como os soldados aliados nas praias da Normandia, no dia 6 de junho de 1944.
Então por que não aproveitar a hora e mostrar para o que vieram? As espatódias – não me habituo, nem quero falar espatodeia – começam a florir no fim do ano e esticam os meses de verão para dar seu show particular, com uma florada vermelha deslumbrante, com seus mija-mijas enchendo o céu com sua cor especial.
Quando eu era criança, na fazenda, as espatódias eram chamadas de mija-mijas por causa de suas flores, que ficam cheias de água, com as quais fazíamos guerra.
O nome era tão forte que tio Júlio Salles, respondendo para o prefeito de Paris, que queria saber que árvore era aquela, não teve a menor dúvida em dizer que era um mijá-mijá.
Mas não são só elas que aproveitam o interregno das quaresmeiras. Os resedás estão aí, com suas árvores totalmente enfeitadas, com as flores contrastando com as folhas escuras, num show de beleza maravilhoso.
O bom disso é que quem ganha somos nós, moradores da cidade.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.