O Museu da memória
Alguns museus são fundamentais não porque tenham Monas Lisas, ou Davis, mas porque mostram o outro lado do ser humano, o lado escuro, opaco, cruel e sanguinário, que nos diferencia dos demais animais e nos coloca num lugar especial, pela bestialidade gratuita com que atacamos, ferimos e matamos nossos semelhantes.
É o caso do museu do Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia, do Chek Point Charlie, em Berlim, e do Museu da Inquisição, em Cartagena de Índias, até ser desmontado pelo governo colombiano.
Agora conheci mais um e passei algumas horas de angústia em seu interior, vendo os detalhes das barbaridades cometidas pela ditadura Pinochet, no Chile.
Não se trata de ser de direita ou de esquerda. O Museu da Memória e dos Direitos Humanos, de Santiago do Chile, por razões óbvias, tem um viés de esquerda. Nem poderia ser diferente, já que a ditadura brutal, que ceifou a vida de milhares de chilenos das formas mais estúpidas, banais e cruéis, era um regime de extrema-direita.
Mas se algum dia criarem o Museu da Revolução Cubana será tão ou mais apavorante do que o museu chileno. E com certeza o Museu da Coréia do Norte seria mais brutal ainda e qualquer outro museu sobre os desmandos dos regimes comunistas em qualquer outro país do mundo seria no mínimo tão apavorante quanto o Museu da Memória de Santiago.
A questão não é a linha política do torturador, do genocida, mas a selvageria que os defensores de uma “verdade política” são capazes de praticar contra os que pensam diferente e cuja imensa maioria não representa nenhum perigo concreto para eles.
Diante de um museu como esse, expondo a falta de humanidade que cria tristeza e vergonha, a única certeza é que não podemos nos calar.
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