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O Museu da memória

Alguns museus são fundamentais não porque tenham Monas Lisas, ou Davis, mas porque mostram o outro lado do ser humano, o lado escuro, opaco, cruel e sanguinário, que nos diferencia dos demais animais e nos coloca num lugar especial, pela bestialidade gratuita com que atacamos, ferimos e matamos nossos semelhantes.

É o caso do museu do Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia, do Chek Point Charlie, em Berlim, e do Museu da Inquisição, em Cartagena de Índias, até ser desmontado pelo governo colombiano.

Agora conheci mais um e passei algumas horas de angústia em seu interior, vendo os detalhes das barbaridades cometidas pela ditadura Pinochet, no Chile.

Não se trata de ser de direita ou de esquerda. O Museu da Memória e dos Direitos Humanos, de Santiago do Chile, por razões óbvias, tem um viés de esquerda. Nem poderia ser diferente, já que a ditadura brutal, que ceifou a vida de milhares de chilenos das formas mais estúpidas, banais e cruéis, era um regime de extrema-direita.

Mas se algum dia criarem o Museu da Revolução Cubana será tão ou mais apavorante do que o museu chileno. E com certeza o Museu da Coréia do Norte seria mais brutal ainda e qualquer outro museu sobre os desmandos dos regimes comunistas em qualquer outro país do mundo seria no mínimo tão apavorante quanto o Museu da Memória de Santiago.

A questão não é a linha política do torturador, do genocida, mas a selvageria que os defensores de uma “verdade política” são capazes de praticar contra os que pensam diferente e cuja imensa maioria não representa nenhum perigo concreto para eles.

Diante de um museu como esse, expondo a falta de humanidade que cria tristeza e vergonha, a única certeza é que não podemos nos calar.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.