Maurício de Souza para a APL
Quando Maurício de Souza era candidato à Academia Paulista de Letras, onde entrou com expressiva votação, um repórter me perguntou se eu me sentia confortável elegendo o grande cartunista, como se fosse um autor menor, alguém que não fizesse literatura.
Minha resposta para o repórter foi que minhas primeiras leituras tinham sido quadrinhos, um pouco mais tarde, inclusive Maurício de Souza, e que ainda o lia diariamente no Estadão.
O repórter me olhou com certo ar de superioridade, como se eu fosse alguém intelectualmente medíocre, e, para encerrar uma conversa muito chata, perguntei a ele se tinha começado a ler com Guerra e Paz em russo, ou com a Divina Comédia, na edição italiana, ilustrada por Gustav Doré.
Mas já dei espaço demais para alguém que não merece. A razão desta crônica é Maurício de Souza e sua obra extraordinária.
Cebolinha, Mônica, Cascão, Magali, Bidu são personagens do tamanho do Pato Donald, de Tintin, Asterix e o melhor que os quadrinhos criaram no mundo, incluídas as aventuras das heroínas eróticas italianas.
A genialidade de Maurício está presente em países tão inesperados quanto a Coréia do Sul, a China e o Japão, além, é claro, da Europa, onde seus personagens encantam de alemães a italianos, indistintamente.
Suas histórias atingem picos impressionantes de venda ao redor do mundo. Falar em tiragens de milhões para Maurício de Souza é fácil.
Ninguém começa a ler e se apaixona pela leitura sem ter devorado centenas de quadrinhos antes de entrar nos clássicos, aliás, coisa não tão comum no Brasil.
Maurício é candidato à Academia Brasileira de Letras. Tem todos os requisitos para ser eleito e engrandecer a Casa de Machado de Assis. Mais do que nunca é hora de um autor da base dos leitores ter assento lá.
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