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A queda dos que já foram fortes

[Crônica do dia 13 de dezembro de 1998]

Fechou. Pode parecer incrível, mas fechou e, ao que parece, para sempre. Nenhuma luz no horizonte traz qualquer esperança de reversão. Simplesmente fechou. Melancolicamente fechou. Nostalgicamente fechou.

Fechou sem banda de música e sem foguete. Sem saudade, sem choro e sem vela.

Nenhum rádio amador captou o Mayday desesperado que anuncia o naufrágio dos grandes navios. o sino do LLoyds não tocou. Ninguém percebeu.

O que foi grande ontem minguou até acabar, comido pelo progresso de um mundo que ele fazia pelo menos mais elegante.

Por um mundo que mudou de cara, que mudou de hábitos e mudou de moda, deixando de lado as tradições seculares que lhe davam a segurança indispensável para saber o rumo, trocando-a pela rota incerta dos bêbados que assumiram o comando do planeta e que ameaçam explodi-lo.

A vida passou pela janela da moça bonita que envelheceu sem perceber que seu tempo passou e ela não viu, e que ninguém mais usa galochas, nem bengalas, nem guarda-chuvas.

Que a garoa paulistana foi engolida pela ganância da poluição e que o vento encanado que matava os funcionários públicos aposentados em suas casas de vila também mudou, transformado nos vendavais de verão, que assolam a cidade com a fúria dos elementos com raiva dos homens.

Outra cidade se impôs e impôs seus hábitos aos moradores que adotaram os jeans e os tênis, e as camisetas e os moletons.

Como usar bengala ou guarda-chuva nos dias de hoje?

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.