Uma viagem feliz
[Crônica antiga de 6 de junho de 2000]
Quem vive e respira as mazelas da capital acha que o mundo não tem mais jeito. É e quase verdade, porque o cenário, que não tem como ficar pior, acaba ficando. O que vem depois alforriar o que veio antes porque se o primeiro era péssimo, o seu sucessor é pior ainda. É uma regra cruel, mas verdadeira.
Aí a gente sai, pega uma estrada e descobre que fora daqui as coisas podem ser diferentes e bem melhores. Vivi essa experiência faz pouco, numa viagem para Porto Feliz, aonde não ia desde que voltei de Itu, em 1972, depois de acabar meu estágio como aspirante do CPOR.
Porto Feliz das monções que abriram o Mato Grosso e aumentaram o território brasileiro, dos canhões que subiam o Tietê, trazendo na volta o ouro e a fartura que deram para a cidade em 1750 a matriz de Nossa Senhora Mãe dos Homens, de um tamanho e de uma riqueza sem igual nas igrejas paulistanas da mesma época.
Nossa Senhora Mãe dos Homens que foi coberta com pastilhas, mas que manteve a linha e serve de contraponto para o casarão do museu das Monções, com seu pé direito alto e suas madeiras de lei, preservadas para preservar o passado e mostrar que a terra brasileira não caiu do céu, como um presente dos anjos.
Porto Feliz do paredão de Araritaguaba, lindo e majestoso, mas onde as araras não afiam mais os bicos. Do porto de onde saiam as expedições, bem ao pé do paredão. Do parque que guarda boa parte da história da cidade.
Porto Feliz que tem no prefeito alguém que investe em educação, saúde e cultura. Que preserva seu passado e garante seu presente, sem perder o belo e o bom e a poesia que são parte da sua história.
Porto Feliz lugar bom para recarregar as baterias e encontrar força para tocar em frente, ainda que em outro cenário, mais cinza e mais triste.
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