O paliteiro
Meu pai, quando olhava a cidade do alto de um prédio na Avenida Paulista, dizia: “Que imenso paliteiro!”.
Meu pai morreu em 2006. Então imagine o que ele diria hoje, quando a cidade se espalhou e subiu para todos os lados e pra cima, como uma imensa torre de Babel, feita de milhares de prédios uns ao lado dos outros, como que se escorando para permitir que o ser humano suba indefinidamente, rumo ao céu, e assim se sente ao lado de São Pedro nas portas do Paraíso.
Pode mais quem chora menos. A altura dos prédios começa a competir com arranha-céus internacionais, estamos nos aproximando dos quarenta andares. Se é bom ou se é ruim é uma questão de ponto de vista. Vai ter quem goste e quem não goste. Mas o problema não é esse. O problema é não permitir que as construções desenfreadas comprometam a qualidade de vida dos vizinhos.
Invariavelmente é isto que acontece. Constroem e destroem o entorno, quem mora no pedaço que se dane. O negócio é subir, subir, subir e subir. Sempre mais, sempre maior, sempre mais alto.
Se a malha viária dá conta é outra história. Já não dava antes, não vai dar depois. Só vai piorar, aumentar os engarrafamentos que já param a cidade. Quem sabe, daqui pra frente, o trânsito comece a andar de marcha-ré.
Se tem água e esgoto também não é problema de quem constrói, mas vai ser problema de quem vai morar. É preciso pensar nisso, mas, no mais das vezes, não pensam. Então, depois, o nó se agrava, mas aí já é tarde. Não tem o que fazer, do elevador de manhã até o trânsito que para as ruas.
Tem quem diga que tem que parar. Mas parar como? São Paulo se espalha pelo planalto desde o momento em que o tropeiro virou fazendeiro e depois industrial, banqueiro e comerciante. Aqui, hoje, o céu é o limite.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.