O fim do mundo está chegando

[Crônica de 15 de julho de 1999]

Eu gostaria de pensar que é porque o Tietê está ficando mais limpo, mas, infelizmente, a realidade não me deixa muitas dúvidas: a verdade é que as capivaras estão ficando mais resistentes.

Só por isso, no outro dia, um casal de capivaras, com o filhote ao pé, foi visto pastando bem em frente ao prédio do Estadão, no canteiro central da Marginal do Tietê.

Para acreditar que o Tietê está mais limpo seria necessário, como São Tomé, eu ver suas águas correndo com jeito de água, e não como uma gosma mais parecida com graxa, que é como ela se arrasta dentro de seu leito.

É verdade que mesmo se ela estivesse limpa, livre de tudo que a prende, como um carma tentando impedir o rio de cumprir seu destino de rio, a água do Tietê escorreria lentamente por causa do seu pouco declive na região do planalto.  

Mas, não é isso que importa. A questão séria e que precisa ser enfrentada de frente são as capivaras pastando pacificamente bem em frente à sede de um jornal, como se quisessem ser fotografadas, para não deixar dúvida, na edição do dia seguinte, que elas vieram para vencer… e que venceram.

Calmas, impávidas, cercadas de carros e de lodo, as capivaras com o filhote ao pé, comiam a grama do canteiro que margeia o rio como se estivessem em algum pasto de fazenda na região de Araçatuba.

O caos da via expressa não era com elas, como não era com elas a água suja que lhes serviu de estrada e por onde chegaram nadando, sem serem molestadas pelos jacarés.

Meu Deus do céu, sem serem molestadas pelos jacarés!

Será que vamos assistir de novo o filme da época da construção do piscinão do Pacaembu?

Será que as capivaras e os jacarés fizeram um novo pacto, para de novo tentarem tomar São Paulo? Será que desta vez os pernilongos e os travestis também se aliaram a eles?