Alguns dias de inverno

[Crônica de 4 de julho de 1997]

Alguns dias de inverno atingem quase que a perfeição. Começam com manhãs deslumbrantes, onde o azul do céu, mesmo numa cidade como São Paulo, onde a poluição não cai porque Jeová implica com os técnicos da Cetesb, e boicota os resultados do rodízio, atinge um grau de profundidade impressionante, que desmente a distância do infinito.

Sua transparência abre caminhos no céu, estradas que ligam o sonho à sua possibilidade, e onde a certeza da felicidade é dada como brinde da casa.

São manhãs tão especiais que até quem sai de casa apressado, com medo de chegar atrasado ou de ser multado por trafegar em dia proibido, diminui o ritmo do carro, e olha para o céu, fascinado pela sua cor.

E depois o dia segue sua marcha, com o sol num tom único, que se repete, mas de forma diferente, ao longo da tarde. 

A cada cinco minutos a luz muda, incidindo de outro jeito sobre a cidade mais viva, acordada pelo brilho do dia, que a envolve e a torna mais humana.

Estes dias de inverno são tão especiais quanto certos dias de primavera, quando o céu adquire um azul intenso e profundo, diferente de sua cor normal e que modifica o cenário de forma sutil, mas firme o bastante para alegrar a alma.

E quando a noite chega, fresca ao invés de fria, seu cartão de visita é a lua cheia soberana, apagando as estrelas, para falar dos mitos e de Diana correndo pelo céu, com sua aura divina apontando a direção de suas flechas.

Noites de vento manso, brisa que traz em sua essência a essência a própria vida, misturando todos os cheiros das poucas flores que se abrem no inverno, enganadas pelo dia deslumbrante, que as faz pensar que já é primavera.

Dias especiais onde o inverno e seu frio cedem lugar para a esperança amena duma felicidade tranquila trazida pela cor do céu, que em suas 24 horas mostra incessantemente o outro lado da vida, e que ela é possível.

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