As conversões impossíveis
[Crônica de 19 de maio de 1998]
Eu não sei como elas começaram, mas o fato é que vão se intensificando numa velocidade alucinada, como a que maioria dos carros gostaria de desenvolver pelas ruas de São Paulo.
Mas se os carros não conseguem andar como gostariam, aumentando sempre mais a sua velocidade, o número de conversões impossíveis tem crescido alucinadamente, transformando-se quase que na regra para quem pretende virar para a esquerda ou para a direita e, às vezes, até dar marcha a ré.
É um absurdo, mas é um absurdo que vai impondo-se com impressionante persistência, o que faz com aos poucos passe a ser copiado por um bom número de motoristas, que, para virar à esquerda colocam-se na pista do meio ou então na da extrema direita, e simplesmente convergem para a esquerda, cortando a frente de quem estiver ao seu lado, como se a regra fosse esta e competisse ao motorista da pista ao lado prever a manobra, feita muitas vezes sem qualquer sinal, e brecar por conta da passagem do estafermo vindo do lado errado.
O hábito vai se entranhando com tanta força que, outro dia, fui xingado de tudo e mais alguma coisa por um motorista que, vindo pela extrema direita decidiu entrar à esquerda, tendo que parar porque eu, que seguia pela pista do meio, segui em frente, sem perceber o que ele queira fazer.
O cidadão, convencido da sua razão, teve um acesso de fúria que o fez espumar de ódio porque eu, trafegando normalmente pela pista do meio, segui em frente, impedindo-o de entrar à esquerda, cortando a frente de três pistas de rolamento, sem ao menos ligar o pisca-pisca.
A bem da verdade, se tivesse imaginado a intenção do motorista, com certeza eu teria brecado, para deixá-lo passar. Afinal, os loucos são os donos da rua e nos dias de hoje pouco custa para você levar um tiro por conta de um doido varrido dirigindo ao seu lado.
Como não o fiz, mesmo estando errado, o outro motorista parecia alguém possuído pelo diabo, gesticulando e urrando no meio da rua.
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