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A utilidade dos pontos de ônibus

[Crônica da 25 de julho de 1998]

Qual a verdadeira utilidade de um ponto de ônibus? Muito embora a questão pareça irrelevante, por ter uma resposta óbvia, ao contrário do que os mais acomodados imaginam, ela envolve problemas transcendentais que podem, se não alterar a ordem do universo, pelo menos dar uma nova visão da ocupação dos espaços urbanos no limiar do século 21.

É evidente que a primeira resposta será a de que um ponto de ônibus serve para balizar para os passageiros e para os motoristas os locais previamente determinados para que os ônibus façam suas paradas, permitindo aos primeiros subir e descer e aos segundos saber onde devem parar para que os primeiros possam subir ou descer.

Mas será que esta definição, vista à luz da realidade das cidades, mutantes e dinâmicas, é suficiente para definir um ponto de ônibus e a sua verdadeira e principal utilidade?

Será que um ponto de ônibus é algo simples como as amebas, que se reproduzem sem intercurso sexual?

Me parece que não.

Um ponto de ônibus é um objeto complexo, que induz a uma interpretação errônea de suas verdadeiras finalidades.

Servir de marco para a parada dos coletivos é uma função nobre e foi pensando-se nela que os pontos foram idealizados. Mas, com o decorrer do tempo, os pontos de ônibus foram se revestindo de utilidades complementares, tão importantes quanto servir de aviso para que passageiros e motoristas saibam que é ali que o ônibus deve parar.

Entre as funções acessórias que merecem destaque estão pelo menos três, já tradicionais: a primeira de fortíssima conotação social, é servir de encosto para bêbado; a segunda, também relevante, é servir de banheiro para cachorro; e, a terceira, não menos nobre, é servir de alvo para o aprimoramento das batidas de carro.

Pois em complemento delas, quero citar uma quarta, com certeza a mais recente de todas: pau para amarrar cavalo, como eu vi no outro dia, na rua Arquiteto Jaime Fonseca Rodrigues. 

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.