A utilidade dos pontos de ônibus
[Crônica da 25 de julho de 1998]
Qual a verdadeira utilidade de um ponto de ônibus? Muito embora a questão pareça irrelevante, por ter uma resposta óbvia, ao contrário do que os mais acomodados imaginam, ela envolve problemas transcendentais que podem, se não alterar a ordem do universo, pelo menos dar uma nova visão da ocupação dos espaços urbanos no limiar do século 21.
É evidente que a primeira resposta será a de que um ponto de ônibus serve para balizar para os passageiros e para os motoristas os locais previamente determinados para que os ônibus façam suas paradas, permitindo aos primeiros subir e descer e aos segundos saber onde devem parar para que os primeiros possam subir ou descer.
Mas será que esta definição, vista à luz da realidade das cidades, mutantes e dinâmicas, é suficiente para definir um ponto de ônibus e a sua verdadeira e principal utilidade?
Será que um ponto de ônibus é algo simples como as amebas, que se reproduzem sem intercurso sexual?
Me parece que não.
Um ponto de ônibus é um objeto complexo, que induz a uma interpretação errônea de suas verdadeiras finalidades.
Servir de marco para a parada dos coletivos é uma função nobre e foi pensando-se nela que os pontos foram idealizados. Mas, com o decorrer do tempo, os pontos de ônibus foram se revestindo de utilidades complementares, tão importantes quanto servir de aviso para que passageiros e motoristas saibam que é ali que o ônibus deve parar.
Entre as funções acessórias que merecem destaque estão pelo menos três, já tradicionais: a primeira de fortíssima conotação social, é servir de encosto para bêbado; a segunda, também relevante, é servir de banheiro para cachorro; e, a terceira, não menos nobre, é servir de alvo para o aprimoramento das batidas de carro.
Pois em complemento delas, quero citar uma quarta, com certeza a mais recente de todas: pau para amarrar cavalo, como eu vi no outro dia, na rua Arquiteto Jaime Fonseca Rodrigues.
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