Constraste

Imagine um domingo de manhã na Praça Ramos de Azevedo, no Centro Velho de São Paulo. De um lado da Rua Xavier de Toledo, o Shopping Light, do outro, o prédio do antigo Mappin. Um bem conservado, o outro todo pichado, sujo e maltratado. E em frente, ocupando todo o outro lado da praça, o Teatro Municipal.

Décadas atrás seria uma cena de filme dos anos 1940, com o povo caminhando pela praça, indo e vindo do Viaduto do Chá, com os edifícios Conde Prates e Matarazzo servindo de portal do outro lado do Vale do Anhangabaú.

Hoje, ao redor da praça há um contraste brutal. Na porta do teatro, centenas de pessoas esperando para entrar e, nas calçadas próximas, uma sequência de cobertores cinzas espalhados pelo chão, cobrindo corpos humanos, dormindo nas ruas. 

A cidade mais rica da América Latina convive com o drama de milhares de pessoas vivendo em suas ruas. É um problema que não tem solução fácil e tudo o que foi feito até agora não serviu para melhorar o quadro, mas serviu para espalhar as pessoas em situação de vulnerabilidade pela enorme área urbana, dificultando seu atendimento pelas autoridades e pela própria população.

Eu tinha saído do Teatro Municipal e estava na porta do estacionamento esperando meu carro quando fui abordado por um homem, morador da Rua Xavier de Toledo. E ele, para minha surpresa, não me pediu dinheiro, pediu um prato de comida para ele e para sua mulher.

“Doutor, eu não quero dinheiro. Se o senhor me der dinheiro, eu vou comprar drogas. Eu e minha mulher estamos com fome. O senhor poderia me pagar um prato de comida?”

A vida é feita de contrastes e deles nascem as surpresas.    

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