Peripécias de uma ouvinte
[Crônica de 25 março de 2008]
A ouvinte Ana topou deixar a reportagem da Rádio Eldorado acompanhá-la durante o trajeto de sua casa para o trabalho. Para mim que estava ouvindo a rádio, foi um mergulho no inferno. Mas segundo a ouvinte até que foi maneiro. Ela só precisou uma hora e meia para ir de sua casa em Alphaville para o trabalho, na Avenida Indianápolis.
E isso porque saiu às seis e meia da manhã. Se saísse meia hora mais tarde o trajeto teria levado perto de duas horas.
É a realidade do trânsito paulistano e a triste sina de cada um de nós, pegos mais cedo ou mais tarde pela enorme serpente de aço que se arrasta por nossas ruas malcuidadas, mal planejadas e insuficientes para o tamanho do estrago.
Ninguém tem nada com isso. Não é problema da ouvinte, não é problema meu, não é problema seu, não é problema das autoridades.
Mas o problema está aí. E é simples de ser entendido. São Paulo tem nove mil quilômetros a mais de carros do que de ruas.
O resultado é a ouvinte levar uma hora e meia para rodar trinta e dois quilômetros para ir de casa para o emprego.
Há pouco que pode ser feito. Ficar bravo não adianta. Xingar também não, se bem que desopila o fígado.
Mesmo se o governo decidir agir imediatamente, os resultados com sorte começam a pipocar daqui a cinco anos. Em menos tempo não tem como construir metrô e só o trecho sul do Rodoanel não dará conta do estrago.
Então é fazer como a ouvinte Ana. Ter paciência, não desesperar e achar que uma hora e meia é melhor do que duas horas, ainda que isso implique sair de casa às seis e meia da manhã.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.