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Os ônibus velhos

Que os deuses tenham piedade dos que tomam os ônibus velhos, sem ar-condicionado, num dia em que a temperatura chega a 33 graus!

Se, com ar-condicionado, um ônibus pode ser antessala do inferno, sem ar-condicionado, com certeza, é o décimo oitavo círculo, não previsto, nem cantado por Dante Alighieri.

Por que estamos vivendo isso? Tenho um conhecido que trabalhou no serviço secreto de Tipuana da Banana Grossa, que garante que é armação dos fabricantes de cerveja em barril para retomarem os níveis de consumo de antes da pandemia.

Também tem quem diga que é um acerto entre os fabricantes de geladeiras a querosene e os novos amigos dos deuses, cada um focado na sua divindade, prometendo recolher o dízimo caído do céu para dar aos pobres nos altares de ouro que engrandecem os templos.

Pode ser. Quem sou eu para dizer o que é ou não é. Não tenho competência, nem sou amigo dos reis da eternidade para invocar seus testemunhos em questão tão complexa.

Por isso não me cabe ir – e eu não vou – além de externar minha opinião sobre o conforto oferecido por um ônibus lotado e sem ar- condicionado trafegando debaixo do sol do meio-dia.

Milhões de pessoas vivem essa experiência inesquecível todos os dias. Pergunte a um deles se está confortável, se é uma viagem dessas que faz parte do seu sonho de consumo, junto com o plano de saúde privado.

Nove em cada dez entrevistados vão dar risada e propor jogar um pouco pelo aplicativo do celular enquanto o jogo de verdade não começa.

Mas se você acha que assim está ruim, dá pra ficar pior. Imagine se, depois de tanto sacrifício, o ônibus sem ar-condicionado quebra numa estrada vicinal, sem socorro por perto.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.