A festa da cidade
[Crônica de 19 de dezembro de 2007]
Este ano o Natal está uma festa. Eu sei que todos os anos o Natal é uma festa, mas este ano São Paulo caprichou mais. Tanto que andar de carro pela Paulista é impossível. O trânsito que normalmente anda mal este ano está pior.
Tudo por causa das decorações e comemorações de Natal que três bancos decidiram fazer em prédios seus na região.
Quem ganha é a boa vontade do próximo que precisa muita boa vontade para ficar parado no trânsito, dentro de um carro, esperando um tempão para poder ver as atrações.
Mas vale a pena. No meio do tumulto que são as ruas em volta, mais confusas e lotadas do que nunca, a vida descobre um significado novo para a palavra solidariedade.
Um significado que estava perdido ou pelo menos escondido no mais fundo do peito de cada um, como se décadas de violência crescente houvessem soterrado o lado bom das pessoas.
Este Natal mudou tudo. Ou está mudando, ou é o sinal de que nós vamos mudar e para melhor. O dado bom é este: a mudança é para o bem, para o lado da luz, da compreensão e do entendimento, ainda que limitados a uns poucos dias perdidos no mês de dezembro.
Depois vêm as férias e as mudanças tenderão a se consolidar, no ar mais tranquilo da cidade mais vazia. Na boa vontade das pessoas bebendo um chope gelado nos finais de tarde.
No fundo é como se uma espécie de histeria saudável tomasse conta da cidade. Uma febre ou epidemia. Mas que com a doença, trouxesse também a cura, matando com seus germes o ruim e o feio que nos últimos anos têm sido a marca registrada da metrópole.
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