Natal 2000
[Crônica de 22 de dezembro de 2000]
Meu Deus, Senhor dos homens e das feras, há quantos séculos a vida sobre a terra é uma guerra sem fim, opondo os homens e maculando a imagem da espécie?
Há quantos milênios, ano após ano, nos destruímos um pouco mais, nos odiamos um pouco mais, nos matamos como bestas feras completamente fora de controle?
Olhando este mundo fora de foco, este mundo onde o ódio é o pão nosso de cada dia e as palavras de amor são vento que se perde no mar, meu Deus, vem a pergunta: que mundo é esse? Que vida é essa que se esvai em sangue de inocentes, em vidas que se acabam estupidamente numa quebrada da cidade grande, que se apagam como as estrelas que ainda brilham, estando mortas há tanto tempo?
Meu Deus, qual o sentido da falta de sentido que faz do dia a dia uma aventura sem lógica, perdida num mundo sem respostas?
Cadê a estrela de Belém que conduziu com segurança os reis magos até a gruta onde o Deus menino dormia, acalentado pelo bafo quente de uma vaca?
Cadê todos os sinais que falam dos tempos que ainda vão vir e que transformarão a terra de novo no paraíso perdido?
Meu Deus, é de novo Natal, de novo o Deus criança se faz outra vez menino, humano e próximo como um gesto de carinho, como um afago feito de noite, que traz de volta a esperança e a capacidade tocar em frente.
Obrigado meu Deus, obrigado, por ser de novo Natal e mais uma vez a possibilidade de um pouco de paz renascer na certeza da vinda do filho para resgatar os nossos pecados.
Obrigado, meu Deus, por há 2000 anos seu filho ter pena dos homens e dividir com a gente um pouco do seu imenso amor.
De novo, o mundo é uma enorme manjedoura, pequena para conter o amor e o afeto de seu coração divino.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.