As surpresas agradáveis
[Crônica de 4 de setembro de 2004]
De repente, você telefona para alguém com quem nunca teve uma proximidade maior e descobre, pela festa que ele faz, que você é querido.
É uma surpresa agradável, aliás, muito agradável, e que fica melhor ainda quando você telefona para outro alguém com que você também não tem tanto contato e descobre que ele também te quer bem e te aceita, como você é.
As surpresas agradáveis são parte da vida, da mesma forma que os percalços, os trambolhões, as topadas nas pedras do caminho. A diferença é que elas fazem bem pra alma, enquanto os outros doem no corpo ou no espírito, de dia ou de noite.
Se as surpresas agradáveis não tivessem nenhuma outra vantagem, o simples fato de nos fazerem sentir bem já pagaria seus preços, nos deixando em paz, encostar a cabeça no travesseiro e dormir profundamente.
Esse tipo de surpresa é como andar pelas ruas e, de repente, sem por que, e sem saber de quem, nós escutamos um bom dia, dito numa manhã de domingo de inverno, com um saco de pão quente balançando na mão, com o cheiro da padaria se espalhando no ar.
O encontro é tão bom quanto o cheiro da padaria ou a primeira mordida no pão, sentindo a crosta crocante e o miolo quente, em volta da mortadela e do queijo que ficam melhores ainda dentro do pão fresquinho.
Viver é descobrir o mundo, se abrir para ele. Sentir a brisa, o calor e o frio dos dias que se sucedem. Ver a lua cheia uma vez por mês e o sol surgir a cada manhã.
Viver é ter surpresas boas, gestos inesperados, olhares amigos e mãos estendidas nos dando quando menos esperamos, boas-vindas.
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