Centenário de uma obra de arte
[Crônica de 25 de outubro de 2013]
O Viaduto Santa Ifigênia completou 100 anos. Um século, atravessando o vale para unir o Largo de São Bento ao Largo de Santa Ifigênia. O mosteiro e a igreja, a fé com a fé.
O Viaduto do Chá é mais antigo e mais famoso, mas, hoje, não é tão bonito. Pode ser que, em 1913, o viaduto alemão, de ferro e madeira, fosse lindo. Em 2013 o Santa Ifigênia é mais bonito. O Viaduto Santa Ifigênia é de ferro, lançado sobre as duas bordas, em linhas deslumbrantes, construídas na Bélgica e transportadas para o Brasil.
Imagine sua estrutura sendo transportada serra acima. Varando as quebradas e vales da Serra de Paranapiacaba, carregada pelos vagões da Estrada de Ferro Inglesa, que segue mais ou menos o traçado do antigo caminho do Peabiru.
Tente visualizar São Paulo em 1910, quando as obras começaram. O Mosteiro de São Bento ainda não era o complexo imponente dos dias de hoje. E a Igreja de Santa Ifigênia estava longe de servir de protetora para o comércio intenso de produtos eletroeletrônicos que acontece à sua volta.
A cidade começava sua disparada rumo ao tamanho alucinante e à ingovernabilidade. O polvo lançava seus primeiros tentáculos em direção das distâncias do Planalto.
Campos Elíseos era o bairro rico. Higienópolis e Santa Cecília começavam a ser povoados. O Viaduto do Chá era de madeira e os bondes puxados por burros ainda corriam pelas ruas da cidade. A Avenida Paulista tinha terrenos baldios. As noites escuras eram parcamente iluminadas por lampiões a gás. O Teatro Municipal abria as portas para os primeiros espetáculos. E o Viaduto Santa Ifigênia era inaugurado. Cem anos atrás, era outra cidade, relembrada nos postes que hoje iluminam seu piso de mosaico.
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