Marcas registradas
As tempestades de verão que atingem São Paulo todos os anos têm algumas manias que podem ser consideradas suas marcas registradas, porque se repetem indefinidamente, ano depois de ano, verão depois de verão.
São fatos inevitáveis, que ganham mais ou menos destaque em função da sequência de eventos que castigam a cidade e do espaço nos meios de comunicação.
As certezas garantem a fila. E a primeira certeza é que, desde antes de São Paulo ser fundada, no século 16, as várzeas já inundavam, até porque é função das várzeas fazerem exatamente isto: inundarem, tomadas pelas águas que extravasam dos leitos dos rios que as cortam.
São Paulo tem três rios mais encorpados que banham e delimitam o mapa urbano: o Tietê, o Pinheiros e o Tamanduateí.
Pasme! Os três já tiveram portos em suas margens e serviram de canal de escoamento para os mais variados produtos da região.
A segunda certeza é que, com a ocupação das várzeas, não foram só os grandes espaços vazios que continuaram a ser atacados pelas águas. Não, bairros inteiros erguidos nas antigas várzeas mudaram a cara da cidade e criaram o drama das enchentes.
Mas as tempestades queriam mais e conseguiram. Hoje, além das várzeas, elas enchem ruas e avenidas. A enxurrada compete com o ritmo dos rios e corre pela cidade levando o que encontra na frente.
Finalmente, a terceira certeza é desoladoramente triste. Com as chuvas ou com o céu cinza, acaba a energia elétrica. Graças a Deus, não acaba por inteiro e de uma vez. Não, o fenômeno é aleatório. Acaba aqui, depois ali, depois volta lá e não volta aqui e por aí vamos, num filme de terror que, dependendo da sorte, pode durar mais de uma semana.
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