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Deve ter alguma razão

[Crônica de 22 de setembro de 1998]

É impressionante, mas é só chegar um feriado e o tempo vira. Tanto faz se a virada se dá no inverno ou no verão, com frio ou com calor, é só chegar um feriado e ela vem, certa como a chuva que chega com ela.

Deve haver alguma razão para isso que vá além do senso de humor divino. Mesmo levando-se em conta que nós não somos feitos à imagem e semelhança de deus e que, portanto, não podemos entendê-lo, nem ao seu senso de humor, há de ter um porque, além do seu senso de humor, para o tempo virar nos fins de semana e nos feriados prolongados.

Imaginar um novo pecado coletivo tão grande que fizesse deus se vingar de toda a humanidade seria megalomania.

O pecado original já está aí, desde o começo dos tempos, obrigando-nos a trabalhar nesta vida, para ganharmos o paraíso na seguinte.

Assim não há razão para Deus se preocupar de novo conosco, mínimos grãos de pó, perdidos num planetinha de décima categoria, girando ao redor de um sol sem nenhuma importância para o futuro do universo e que no máximo em 5 bilhões de anos se apagará, pondo fim a uma existência razoável, mas neutra, não fosse estarmos em volta dele, o que tira a sua neutralidade.

Mesmo que isso tudo não queira dizer nada, a questão das mudanças de tempo nos feriados continua sem resposta.

A semana vai que é uma beleza, sem uma nuvem no céu azul, até quinta-feira à tarde. 

Aí uma nuvenzinha aparece aqui, outra ali, viram a noite como quem não quer nada e a sexta-feira amanhece um pouco mais cinza, e vai ficando mais e mais cinza durante o dia, até que no fim da tarde fica evidente que o tempo vai virar e que o feriado não terá sol.

Ano após ano, feriado após feriado, é isso, especialmente no 7 de setembro, finados e carnaval.

Chove como se o céu estivesse fazendo xixi de tanto rir da nossa cara vendo o tempo. Quem sabe a resposta não esteja com Deus, e sim, com o diabo.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.