Cenas de terror
A imagem da enxurrada correndo pelas ruas das cidades atingidas pelas tempestades de verão é apavorante. Coisa de filme de terror ou filme catástrofe, daqueles que o terremoto se soma ao tsunami e só alguém como Arnold Schwarzenegger consegue colocar ordem, assim mesmo, só no fim, depois de ter engolido muita água.
São cenas aterrorizantes, ainda mais quando pessoas são arrastadas pela força da enxurrada, levadas rua abaixo com a mesma tranquilidade com que arrasta carros, motos, pedaços de asfalto, sonhos e as lembranças de uma vida.
Não são os córregos que cortam a cidade. São entes novos, saídos dos filmes de terror, que ganham outra dimensão para atacar os humanos e suas frágeis defesas, levando de roldão o que encontram pela frente.
A marola não é de córrego de cidade, é de rio para se fazer rafting, com corredeiras altamente ranqueadas na escala de dificuldade. A água ensandecida cria ondas que batem nos postes e espirram espuma, avisando que quem manda é ela e que é bobagem ficar na frente. Os humanos não têm a menor chance.
Não precisa nem chover muito tempo. Uma tempestade de meia hora caindo com força é suficiente para garantir o show. Descer rua abaixo levando de passagem até a esperança, que é a última que morre.
Ficam os olhos vazios, com uma lágrima descendo pela face. Fica a certeza de que não tem mais certeza, exceto que é possível cair outra tempestade para acabar o que a primeira começou. Fica a desesperança na ausência de socorro, na certeza da perda irreparável. Mas, graças a Deus, fica também um muito obrigado porque poderia ser pior.
Fica a resignação de saber que tem que começar de novo e que, no ano que vem, tem uma chance enorme de acontecer outra vez.
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