O abandono e a decadência do cemitério
O Cemitério da Consolação é o primeiro cemitério da cidade. Com participação direta da Marquesa de Santos, que doou o terreno, o local foi aberto no século 19 e até hoje recebe e dá paz aos seus mortos.
Entre os túmulos existem verdadeira obras de arte. Esculturas de alguns dos maiores artistas brasileiros e peças trazidas da Europa dão dignidade, exotismo e beleza à última morada de centenas de famílias que têm seus mortos enterrados lá.
De pequenos canteiros a verdadeiras catedrais, os jazigos do Cemitério da Consolação abrigam nomes ilustres e ilustres desconhecidos. Nomes cujos restos e a memória estão sendo violadas por bandidos da pior espécie, que não hesitam um momento em arrombar os túmulos para furtar até as obturações dos cadáveres, para não falar nas placas com os nomes e os vasos para receber as flores da saudade.
Os cemitérios paulistanos foram privatizados. O que deveria resultar na melhora dos serviços, até agora só gerou faturamento para os que venceram as licitações e assumiram a gestão das necrópoles, que já vinham num lento processo de degradação e por isso foram privatizadas.
O muro do Cemitério do Araçá veio abaixo por causa das chuvas. E o Cemitério da Consolação, por fora, lembra as ruinas de uma cidade murada grega, com a pintura dos muros e das colunas da entrada completamente deteriorada.
Mas quem acha que por fora está ruim, é melhor não entrar. Dentro, o cemitério está muito pior. Sujo, abandonado, sem cuidados de nenhuma espécie, com túmulos arrombados servindo de moradia, é o retrato da decadência física e moral de uma cidade que já foi diferente. É necessário que a prefeitura aja com rigor para exigir dos concessionários um mínimo de respeito com os mortos de quem garante seu faturamento.
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