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Os marcos da cidade

[Crônica de 29 de julho de 2002]

O maior problema de se mudar o nome de um túnel como o túnel 9 de Julho é que, com a mudança, a cidade perde um referencial importante. Durante décadas, aquele lugar e só aquele lugar foi conhecido como túnel 9 de Julho. De repente, sem aviso mais sério do que uma placa, o túnel 9 de julho muda de nome, homenageando um médico que merece ser homenageado, mas que nem de longe tem o tamanho cívico do movimento constitucionalista de 1.932.

Mais grave do que isto, quantas pessoas foram criadas em volta do túnel 9 de julho e, por alguma razão, saíram de São Paulo?

Imagine a cena, uma delas volta e pede ao táxi que a leve perto do túnel 9 de julho. Como se passaram alguns anos e o motorista não é paulistano, ele nunca ouviu falar no túnel, por isso diz para o passageiro: aonde o senhor quer ir não existe.

Ora, não existe como, se o túnel era o marco que ligava os dois lados da cidade? Não senhor, seu túnel não existe…

Aliás, esta situação aconteceu, com toda a tragédia envolvida, durante um assalto, em que a vítima pediu socorro para a polícia e polícia disse pra vítima que a ponte Cidade Jardim não existia.

É fantástico, mas é isto que estão fazendo com a cidade e os pontos de referência que a fazem conhecida e orientam as pessoas.

Imagine se os franceses decidissem mudar o nome da Torre Eiffel, para homenagear alguém. Mesmo merecendo, seria um disparate que não ocorre para ninguém.

E a situação ficaria completamente patética, se quisessem mudar o nome da quinta avenida, ainda que para homenagear um dos muitos e merecidos prêmios nobeis dos Estados Unidos

Pois, é aqui não é diferente e os riscos de descaracterizar a cidade são no mínimo tão trágicos quanto seria qualquer destas mudanças, ainda que muito merecidas. São Paulo tem dezenas de ruas e obras sendo inauguradas todos os meses. Será que nenhuma serve para prestar uma homenagem?

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.