As figueiras no fim da Aspicuelta
[Crônica de 20 de abril de 2009]
A rua Aspicuelta corta a Vila Madalena fazendo esquina com vários bandeirantes que também vivem no bairro, boa parte deles seguidores de Fernão Dias Paes, o grande sertanista com terras na região de Pinheiros.
Homenagem a um dos padres jesuítas que subiram a serra do Mar no começo da história paulistana, a Aspicuelta é uma rua curiosa que se estende pelo bairro, terminando ou começando, dependendo de onde se vem, próxima de um sacolão, famoso pelo sushi, quem sabe fruto da experiência da Companhia de Jesus nos cafundós do Japão, em pleno século 16.
É justamente neste ponto que a rua se presta a brincar de mar, com ondas perfeitas para o surf, boa parte das vezes que chove no pedaço.
Só quem já enfrentou a tormenta sabe o que eu quero dizer. Consegue entender a impotência que toma conta da gente, quando o carro é erguido pelas águas e começa a boiar de marcha à ré, levado pela enxurrada.
É cena de filem de terror, principalmente quando passa batido, sem a sorte de ficar preso numa ponta de calçada com as rodas presas servindo de freio para uma aventura com tudo para ter final infeliz.
Pois é esta rua, neste pedaço, que apresenta o espetáculo fascinante de duas figueiras em pleno crescimento, bem no lugar onde as ondas sobem.
São duas árvores de porte, do outro lado da calçada em que a Aspicuelta acaba, ou começa.
As copas largas balançando no vento falam de matas que não mais existem e que as figueiras não conheceram, mas que de forma toda especial, resgatam passado como se os bandeirantes vivessem também.